quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Mudança para Aachen: do inferno ao céu em menos de 1 semana - 07.08.2010

O dia 07 de agosto vai ficar marcado na minha lembrança acho que por um bom tempo. Logo cedo partimos de Zchortau rumo a Aachen de ônibus. Foram quase 10hs de viagem com uma única parada. Estávamos felizes pelo fato das aulas de alemão terem acabado e ansiosos para conhecer o que seria o nosso novo lar pelos próximos 2 meses. Embora o grupo latino ainda estivesse junto, desta vez íamos morar em diferentes cantos da cidade. Eu, Carola, Bread, Milena e Jhonny íamos morar no mesmo local, porém em diferentes apartamentos. Jhonny ia morar sozinho, o casal Bread e Milena iam dividir um apartamento e eu e a Carola uma espécie de edícula. Até aí tudo bem, estava feliz por estar próximo dos brasileiros e por morar junto com minha amiga chilena mais que querida.

Chegamos em Aachen às 18hs de um sábado. O ônibus ia parando nos diferentes bairros e cada vez que um grupo de colegas descia, a ansiedade aumentava. Fomos o penúltimo grupo a chegar onde seria nossa casa. Quando o ônibus parou na frente daquele imenso e antigo portão, logo um frio gelado se instalou no meu estômago, parecia até que estava adivinhando. Descemos e ao colocar minha mala no chão, foi inevitável não reparar. O chão estava sujo, repleto de folhas secas e alguns jornais velhos estavam empilhados na escada em frente do que viria a ser a entrada do apartamento de Jhonny. Mais a frente tinha um pequeno prédio onde Milena e Bread se instalariam. Do lado, havia uma pequena lavanderia (não para uso dos moradores, era uma pequena empresa de prestação de serviços do locador) e, logo mais ao fundo, um grande jardim repleto de velharias nos levaria o que seria a minha casa e de Carola.

Entramos na casa e com calma fomos olhando tudo. O lugar estava sujo, repleto daquelas aranhas de perna fina (eu sei, não faz nada, mas o problema é que tenho pavor de aranhas, então para mim não importa se é pequena, grande, se é venenosa, se não é, enfim), sem luz no banheiro e também no quarto improvisado dentro do que seria a sala de estar da casa. O fogão elétrico não funcionava e a cozinha também estava escura. A porta do banheiro não fechava, ou seja, privacidade zero. E a coitada da Carola, se tivesse que usar a cozinha ou o banheiro de madrugada, ia ter que sair do seu quarto (que ficava do lado externo da casa principal), andar um pedaço do jardim (imagina no inverno, com neve) para poder ter acesso a casa. Cama? Pra que? Só tinha um colchão encostado na parede (detalhe: sem travesseiro e sem roupa de cama) na sala, ops, no meu quarto.

Eu sei, tem muita gente no mundo que não tem sequer um telhado para morar debaixo, não é disso que estou falando, mas sim da situação como um todo. Poxa, estávamos cansados, com fome, com sono, querendo tomar um banho quente e ter uma noite de descanso e é assim que encontramos o lugar? É assim que somos recebidos? Só sei que aquela situação me paralisou. Fiquei uns 20 minutos olhando para aquilo tudo e ouvindo o grupo dizer: "vamos deixar aqui lindo, vocês vão ver", "vamos fazer um multirão e deixar o cafofo um brinco" .. enfim, mas não sei, aquela situação me embrulhou o estômago, estava me sentindo humilhada, ofendida, afinal, nem quando eu era aluna de graduação me submeti a morar num lugar sujo como aquele e sem condições de ser habitado, pois para mim um lugar que não tem energia elétrica, o fogão não funciona, não tem água quente e um lugar limpo pra dormir, sinto muito, mas não entra na minha cabeça como aquele imóvel conseguiu ser alugado. Acho que o locador deu graças a Deus quando conseguiu "empurrar" aquele muquifo para álguém. Só sei que sentei no chão e chorei, chorei que  nem criança, de soluçar mesmo, porque nunca tinha passado por isso, por tamanha humilhação. Confiram algumas fotos abaixo, coloquei as mais tranquilas.

Entrada da edícula.

Olha a cara da Carola, parece até que estava adivinhando ... rs

Meu quarto. É, assim de longe parece lindo.

Minha cama.

Mas olhando de perto, estava tudo limpinho assim...

... do chão ao teto! :- |

E olha aí uma das moradoras da casa ... rs

Uma amostra da instalação elétrica da casa.  Conseguimos ver
porque ainda não tinha anoitecido... rs

E esse é o jardim que dava de frente para a edícula (minha casa e de Carola).

O mais engraçado de tudo é que logo que chegamos, o locador apresentou o que seria a casa de cada um e logo saiu dizendo que precisava fazer cópias das chaves, pois não tinha para todos. E isso num final de tarde de sábado, ou seja, realmente ele estava preparado para nossa chegada. Só sei que ele ficou umas 2hs ausente e a gente ali, morrendo de fome olhando para nossas malas, sem saber o que fazer. Passou um tempo e decidimos sair para comer algo. 21hs já estávamos de volta e tivemos uma conversa com o locador. Apontamos todos os problemas das 3 casas e incrível como ele concordava com tudo. Ele se prontificou a começar a resolver os problemas já no dia seguinte, no domingo. O único caso aparentemente sem solução era o do Jhonny, que de cara foi para um hotel. Eu e Carola passamos a noite no apartamento do Bread e da Milena. No dia seguinte, tivemos outra conversa com o locador e o combinado era ficarmos em um hotel até o final da semana, prazo que ele deu para entregar os imóveis em ordem.

E, fazendo um parenteses aqui, vou ter que contar essa .... rs. No apartamento do Bread e da Milena passaram uma tinta tão porcaria no banheiro que, quando o Bread foi tomar banho, a tinta começou a derreter, escorrer pela parede e ir direto para o ralo. E o mais engraçado é que tinha uma janela do lado do chuveiro, onde era possível ver todas as curvas da pessoa que estava tomando banho pelo lado de fora. A Milena tirou uma foto no momento em que o Bread estava no banho e eu não acreditei quando vi, rimos para não chorar. O único problema é que descobrimos isso depois que todas as meninas já tinham tomado banho .... rsrs.

Bom, mas voltando ao assunto .... pegamos parte de nossas coisas e fomos para um hotel. No mesmo dia fomos jantar na casa da Sara e do Miguel. Meu, que diferença. Eles estavam super bem acomodados, com as malas já desfeitas, as coisas em ordem, num lugar limpo, com cama .... rs e tinham até televisão, microondas, lava-louças, ... Um luxo! Que bom para eles e que pena que os responsáveis por encontrar os imóveis não tem um padrão mínimo para os profissionais participantes desse programa.

No outro dia conhecemos o apartamento da Lívia e da Francesca. Nossa, esse era top, nem precisava de tanto. Mas foi aí que tomamos a decisão de não voltar mais para aquele muquifo que, mesmo que recebesse todas as modificações, nunca ficaria no mesmo padrão dos imóveis dos demais participantes e pior, nunca apresentaria a mesma segurança. O local era totalmente inseguro (o quarto da Carola por exemplo, que ficava do lado de fora da casa, nem tranca tinha) e o portão de madeira velho e antigo mal fechava. Numa quarta-feira, depois do curso, passamos buscar nossas coisas que ainda estavam na "vila do Chaves" (foi esse o apelido que o muquifo ganhou ... rs) e por sorte o locador não estava. E pasmem, ele ainda não tinha movido uma palha. Nenhuma lâmpada foi colocada na minha casa e nem a cama que ele disse que chegaria na segunda-feira estava lá. E foi aí que sem remorso nenhum voltamos mesmo com todas as nossas coisas pro hotel.

E, pra resumir a história, depois de uma semana tumultuada, de muito stress e cansaço, eu finalmente consegui um novo lugar pra morar e, por sorte, foi com uma pessoa muito especial do Brasil (a Lívia) no apartamento que, por coincidência, eu tinha achado o mais bonito. E, 2 ou 3 dias depois, todo o grupo também já estava acomodado em um lugar limpo e habitável. Confiram!!
Meu cantinho!

Para fechar, gostaria de esclarecer que todo esse problema se deu porque aqui na Alemanha muitos contratos de aluguéis são fechados sem que os imóveis sejam vistoriados. A pessoa que aluga, confia plenamente nas descrições do locador. Outro ponto que gostaria de esclarecer é que, conversando com vários alemães depois de mostrar as fotos de todos os imóveis, as condições em que os mesmos se encontravam não seria aceito por nenhum cidadão alemão. Então porque nós aceitaríamos? Porque somos latinos? Definitivamente, NÃO. Afinal não deixamos o conforto de nossas casas, nossa família (alguns deixaram esposas, maridos, filhos pequenos) e nossos postos de trabalho no Brasil para passar por isso.

E é isso, espero que os responsáveis por alugar imóveis para estrangeiros tenham aprendido a lição e, para mim, embora a experiência não tenha sido boa, pode ter certeza que algo de bom aprendi. Uma delas é que o sistema de locação de imóveis no Brasil é muito mais organizado e rígido que aqui. :-)

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